Eu Tenho Um Sonho
28 de agosto de 1963 Washington, D.C.
Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas
palavras da Constituição e da Declaração de Indepêndencia, estavam
assinando uma nota promissória de que todo norte americano seria
herdeiro. Esta nota foi a promessa de que todos os homens, sim, homens
negros assim como homens brancos, teriam garantidos os inalienáveis
direitos à vida, liberdade e busca de felicidade.
Mas existe algo que preciso dizer à minha gente, que se encontra no
cálido limiar que leva ao templo da Justiça. No processo de consecução
de nosso legítimo lugar, precisamos não ser culpados de atos errados.
Não procuremos satisfazer a nossa sede de liberdade bebendo na taça da
amargura e do ódio. Precisamos conduzir nossa luta, para sempre, no
alto plano da dignidade e da disciplina. Precisamos não permitir que
nosso protesto criativo gere violência físicas. Muitas vezes,
precisamos elevar-nos às majestosas alturas do encontro da força física
com a força da alma; e a maravilhosa e nova combatividade que engolfou
a comunidade negra não deve levar-nos à desconfiança de todas as
pessoas brancas. Isto porque muitos de nosssos irmãos brancos, como
está evidenciado em sua presença hoje aqui, vieram a compreender que
seu destino está ligado a nosso destino. E vieram a compreender que sua
liberdade está inextricavelmente unida a nossa liberdade. Não podemos
caminhar sozinhos. E quando caminhamos, precisamos assumir o
compromisso de que sempre iremos adiante. Não podemos voltar.
Digo-lhes hoje, meus amigos, embora nos defrontemos com as dificuldades
de hoje e de amnhã, que eu ainda tenho um sonho. E um sonho
profundamente enraizado no sonho norte americano.
Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e viverá o
verdadeiro significado de seus princípios: "Achamos que estas verdades
são evidentes por elas mesmas, que todos os homens são criados iguais".
Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os
filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos
poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo o estado de Mississipi, um
estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de
liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho de que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa
nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo
de seu caráter.
Quando deixarmos soar a liberdade, quando a deixarmos soar em cada
povoação e em cada lugarejo, em cada estado e em cada cidade, poderemos
acelerar o advento daquele dia em que todos os filhos de Deus, homens
negros e homens brancos, judeus e cristãos, protestantes e católicos,
poderão dar-se as mãos e cantar com as palavras do antigo spiritual
negro: " Livres, enfim. Livres, enfim. Agradecemos a Deus, todo
poderoso, somos livres, enfim.